Há cem anos, Santiago Ramón y Cajal, anatomista espanhol,
teve a idéia de preparar cortes microscópicos de tecido
cerebral e mergulhá-los numa solução de sais de prata
para corá-los. Os sais impregnaram todas as células
de um determinado tipo, deixando as outras sem coloração.
No microscópio, ele notou que o cérebro era povoado
por células dotadas de um corpo central de onde partiam
ramificações que estabeleciam incontáveis conexões umas
com as outras. Pareciam aranhas de múltiplas formas
conectadas por infinitos tentáculos.
Cajal chamou-as de neurônios e as descreveu como células
capazes de receber sinais através de suas ramificações
(os dendritos) e transmiti-los por extensões não ramificadas
(os axônios). A essa propriedade de captar impulsos
nervosos pelos dendritos e transmiti-los pelos axônios
para os neurônios seguintes, Cajal deu o nome de polaridade.
Esse princípio, segundo o qual a informação flui do
dendrito para o axônio, embora tenha encontrado exceções
no futuro, foi crucial para o surgimento da Neurociência:
permitiu ligar estrutura à função. A enunciação do princípio
da polaridade abriu caminho para as tentativas de entender
os circuitos que os neurônios formam no interior do
tecido nervoso.
No microscópio, Cajal, observou que os corpos centrais
dos neurônios e as ramificações que deles partiam apresentavam,
além da extrema diversidade de forma, diferenças significantes
de tamanho. Algumas células tinham prolongamentos curtos
que se comunicavam com vizinhas próximas, enquanto outras
enviavam seus tentáculos para regiões cerebrais distantes
e até para a medula espinal.
A respeito dos neurônios ele escreveu: “são
as misteriosas borboletas da alma, cujo bater de asas
poderá algum dia - quem sabe? - esclarecer os segredos
da vida mental”.
Estava enunciada a teoria neuronal. Graças
a ela, Cajal ganhou o prêmio Nobel de Medicina e o título
inconteste de pai da Neurociência moderna.
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