Naquele dia, meus melhores esforços como aluno de matemática não deram muito certo. Sabia que para acertar a maioria das questões dos exercícios propostos pelo professor, tinha de estudar muito.
E assim o fiz. Para minha surpresa, uma certa conta apareceu com um cálculo errado. Pior. Era uma das mais fáceis da tarefa. As outras tinham me exigido mais empenho intelectual.
Fiquei meio chateado com o descuido, até porque em se tratando de matemática, queria provar a mim mesmo que essa ciência não era um bicho de muitas cabeças como falavam.
Mas ali estava o resultado de minha pouca aptidão para os números. Os colegas, atentos aos fracassos dos outros para se sentir melhores, riam com o canto da boca, mostrando que estavam em vantagem pelo menos naquele item.
De repente, diante de mim, vejo com o canto dos olhos envergonhados a figura franzina do professor. Parado à minha frente, miro seus olhos e ele me diz, sorrindo:
– Vejo que está incomodado com o erro que cometeu.
– Sim, não gostei de errar algo tão simples – respondi.
– Posso te sugerir, então, um desafio?
Surpreso, respondi que sim.
-Em nosso pouco tempo de convivência, vi você se esforçando para acertar tantas contas, que isso me chamou a atenção. Não se preocupe se o erro de uma apareceu agora. Se você já fez corretamente tantas, provou com suficiência que pode acertar outras muitas.
***
Ao me lembrar agora da fala do professor de matemática da 1ª série do antigo 2º grau, um sentimento bom me veio ao coração.
Vi que algo se perdeu daquele fato, ocorrido há quase 30 anos. Não me recordo mais do cálculo que fiz errado. Mas nunca me esqueci dos olhos serenos e da voz suave do professor, tratando-me não como um aluno que erra, mas como alguém com grandes chances de acertar.
Descobri bem depois que essa forma de agir está na base de um dos maiores recursos de comunicação do ser humano: a empatia, que além de ser a aptidão de sentir com o outro, me aparece também como uma competência que certas pessoas têm de conviver com o melhor do próximo, ainda que ele não tenha atingido sua excelência.
Sabe o que mais ficou dessa vivência? O exemplo da energia pessoal aplicada de forma amorosa e confiante.
A isso chamo de magnetismo. Napoleon Hill considera essa força uma herança biológica que determina o volume de sentimentos de caráter emocional – tais como entusiasmo, amor e alegria – que somos capazes de gerar e aplicar em nossas palavras e atos.
O escritor acrescenta ainda que não é possível aumentar a qualidade ou quantidade dessa herança, mas podemos organizá-la e dirigi-la para nos ajudar a atingir qualquer objetivo desejado. E aqueles entre nós que aprendem a fazer isso tornam-se, com freqüência, os líderes, os construtores, os realizadores e pioneiros que contribuem para o progresso da civilização.
***
Não sei por onde anda meu velho e bom professor de matemática. Mas se ele pudesse saber onde eu estou, lhe diria que me encontro muito melhor depois daquele dia simples de aula.
Mostraria a ele que com o passar dos anos, procurei identificar onde estavam, em mim, meus melhores recursos pessoais de comunicação. Lhe diria que descobri em meus olhos, nas minhas mãos e na minha voz alguns dos mais valiosos meios de me expressar aos outros.
Falaria que ele pode me ver como jornalista na televisão, exercitando o carisma que um dia me exemplificou. Mas acrescentaria também que, se um dia esse recurso me faltar, tenho minhas mãos para escrever e meus ouvidos para ouvir, instrumentos fundamentais pelos quais posso transmitir com eficiência meu entusiasmo e amor pela vida e pela beleza que vislumbro em cada ser humano.
O que diria a ele, agora? Falaria assim:
Obrigado, professor querido, pelo voto de confiança que depositou em mim naquele dia…
Hoje, trabalho intensamente na campina imensa de meu mundo interior para oferecer às pessoas o aroma de confiança, força espiritual e autoridade que me cabem para gerar credibilidade e simpatia.
Hoje, procuro olhar nos olhos de quem comigo está para deixar o melhor de mim; toco-lhes se for preciso para provar que minha energia está sintonizada com a paz de um mundo melhor; falo em um tom mais ameno para provar que tenho buscado um timbre e volume mais apropriados na voz para manter vivo o interesse dos outros por mim.
Hoje, quero aproveitar a luz do dia e a força de minha gratidão para dizer-te um muito obrigado. O senhor me ajudou a acreditar na força do carisma e nas inúmeras possibilidades de sucesso que uma simples frase de confiança no outro pode gerar.
A gente se vê, um dia, por aí, para que eu possa lhe dar um longo e afetuoso abraço!
Hill, N. Um ano para enriquecer. Semana 11. 6ª ed., Ed. Record:Rio de Janeiro