Os vários sons de cada tempo

Você já parou para ouvir os sons de seu tempo? Quais seriam as sonoridades características dos dias em que a gente vive no presente?

         Falo de som me referindo a palavras, maneiras das pessoas se expressarem lá atrás, nos tempos de criança; ou quando a hora era de curtir com a galera da juventude; ou então, com a chegada da vida adulta, em que outras vivências vão levando a gente a mudar o bate-papo e os repertórios pessoais.

         Veja se você entende isso que ouvi outro dia:

         -“Não se preocupe, cara. Descarte cara ou coroa. O ataque custa 10 pontos de dano e mais 20 de dano adicional.

         -Então tá! Agora, se der cara ao pegar o raio de confusão, o seu defensor vai ficar confuso”.

         Confuso estou eu. Ouvi essa conversa entre dois garotos de dez anos aproximadamente e descobri bem depois, mesmo sem entender nada, que eles falavam acaloradamente sobre duas cartas de um baralho de pequenos bichinhos japoneses…

         No meu tempo de infância, o papo era bem outro:

         -Olha, vamos correndo pra casa da vizinha que o pessoal está esperando. Só falta a gente pra completar o time da queimada.

         -Pois eu vou pra casa da Paula. Combinamos de brincar de “varinha colada” (em outros lugares, a brincadeira se chamava “pique-bandeira” ou “pique-esconde”).

                                                        *

         Se a viagem continuar lá pra trás no tempo, o destino é outro tipo de linguagem, de brincadeiras de roda, tudo ajudando a definir amigos, caminhos, futuras tendências profissionais, deliciosas emoções guardadas no baú de saudades imortais.

         E o que não dizer dos termos, das gírias que nos ajudavam a expressar desejos e raivas, bem do jeito que a “moda” mandava?

         Nos tempos de meus pais, a turma jovem saía pra dar uma volta na praça, local onde estavam os “brotos” para se “flertar” à vontade.

         Na minha juventude, flertar era coisa de careta. O charme estava mesmo em “paquerar” a moçada…

         Tempos depois, os mais afoitos decidiram trocar o termo para “azarar” as meninas. Pelo menos em Minas era assim.

         Mais adiante, o negócio de sair espalhando olhares e intenções amorosas passou a se denominar “xaveco”.

         Se fizermos uma enquete entre a galera jovem de hoje, pode ter certeza: vão aparecer duzentas palavras novas, cada uma mais sinistra que a outra. Sem problema! Se as pessoas mudam, as gerações acompanham esse movimento e a linguagem reflete nitidamente essas transformações.

                                               *

         Para a ciência da comunicação, a linguagem é um dos mais importantes elementos definidores da cultura de um povo. Ela é o registro vivo da dinâmica própria dos seres humanos. Da mesma forma que eles se transformam permanentemente, ela também se altera, refletindo os movimentos coletivos em mutação.

                                               *

         Se as palavras mudam, o homem também pode ser diferente.

         Ser diferente é ter a coragem de questionar dogmas, colocar em cheque paradigmas conhecidos, dialogar com estruturas antigas de idéias e revelar-se disposto a “sacudir” a poeira da zona de conforto pessoal se for necessário, para deixar brilhar a luz do novo, que carrega em si a força de fazer do homem, por conseqüência, alguém renovado.

         Esses foram alguns dos critérios que diversos publicitários utilizaram para criar slogans que marcaram época em propagandas inesquecíveis. Uma frase curta, recheada de genialidade, e pronto: estava ancorada uma tendência, uma forma de pensar a vida, de se relacionar com os outros. E todo mundo  guardou no fundo da memória coisas como “o primeiro sutiã a gente nunca esquece”; “eu sou você amanhã”; “vem pra caixa você também”…

                                               *

         E qual seria o slogan de nosso tempo? Alguém arriscaria a elaboração de um? Atenção: valem os critérios anteriores – bom humor, astral elevado, objetividade. Vamos lá?

         Poderíamos dizer “um tempo difícil, mas possível de se viver”. Ou então, outro: “Comece agora… a felicidade nasce aos poucos”.

         Vamos continuar tentando: “Eu e você no mesmo tempo – chegou a nossa hora de ajudar…”

         E a sua frase? Já pensou em uma?

Boas idéias fazem bem a quem as tem. Se você viveu bem sua infância, passou legal pela juventude (ou ainda está nela), ou segue firme nas lutas inerentes à maturidade, não perca tempo: escolha o seu slogan particular, defina o seu caminho e some seus esforços à turma do bem, um pessoal muito interessante que não se cansa de acreditar que tudo de ruim vai passar e que tudo de bom vai permanecer com a gente, se a gente se esforçar pra isso.

         Vamos nessa?????

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