O Valor do Diploma

Pierre Bordieu, grande sociólogo francês que viveu no século XX – nasceu em 1930, e falesceu em 2002, afirmava que a escola é o lugar mais importante na medida em que o aparelho econômico se desenvolve e ganha uma complexidade cada vez maior.
Para ele o sistema de ensino exerce funções de reprodução técnica, bem como de reprodução social, e depende menos do sistema de produção (reprodução da posição dos agentes e de seu grupo na estrutura social) do que na reproduçaõ familiar.

O sistema de ensino exerce uma força social grande, pois é o responsável pela garantia escolar dos agentes que compõem os mercados de trabalho. Além da capacitação técnica é o produtor dos diplomas conferidos aos agentes.

Para Bordieu, o diploma “universaliza” o trabalhador, transforma-o num “trabalhador-livre”, cuja competência e todos os direitos são garantidos em todos os mercados. Mas o diploma também sofre “desgastes”, tais como as máquinas. As propriedades de um diploma são adquiridas de uma só vez e acompanha o indivíduo para sempre, mas as competências adquiridas por meio do diploma geram uma defasagem de acordo com as características exigidas pelos cargos, uma vez que as mudanças dependem da economia.

Quanto maior for a relação entre o diploma e o cargo, maior será o capital escolar e, portanto, maior o valor e o rendimento que o agente vendedor da força de trabalho receberá do mercado, ao contrário, quanto menor a relação entre o diploma e o cargo, mais fácil será a submissão do agente portador de pouco capital cultural – e com pouco rendimento – ao detentor do capital social.

Assim a relação entre o diploma e cargo é estabelecida de forma individual e acompanhada de fatores como a experiência profissional técnica, a influência da economia e a escola que fornece o diploma (sistema de ensino), garantindo maior inserção nos mercados para os agentes com boa formação e obtenção de grande incorporação de capital cultural, qualificação profissional que lhe garanta um capital “pessoal” econômico tranformado em patrimônio, permitindo-lhe acumular prestígio e mérito pelas aquisições. Por outro lado, aqueles que tentam “vender” seus diplomas de pouco valor cultural para aqueles que buscam ocupar um cargo nos mercados de trabalho, estes na verdade, só conseguirão obter por um preço baixo um emprego com pobre capital econômico, cultural e social.

Atualmente se convive com a massificação escolar e de certificados, mas para os produtores de diploma, o interesse é o de defender o valor social do mesmo, uma vez que possuem autonomia econômica. Quando o agente recebe seu diploma, não importa se obteve mais ou menos incorporação de capital cultural, o que importa é que o valor conferido ao diploma em âmbito coletivo lhe concede juridicamente um poder legítimo e incontestável.

Uma vez tendo recebido as garantias oferecidas pelo diploma e reconhecendo a sua universalização, o agente vai lutar para tentar defender a sua legitimidade, sem perceber que para o mercado de trabalho, altamente globalizado e determinante na luta de classe e frações de classes, que as instituições de ensino com fraca autonomia fornecem diplomas desvalorizados, excluindo-os e desqualificando-os em comparação aos grupos reduzidos formados pelas grandes écoles nas quais os agentes obtém – até mesmo pela raridade e preciosidade do diploma – a reprodução da força qualificada de trabalho e valorizada nas funções sócio-econômica e cultural.

Com o tempo, aqueles que sofrem a desqualificação de seus diplomas, começam a sentir o fracasso individual, a reconhecer as promessas que os sistemas escolar e social lhes tem pago,m a mistura de revolta e ressentimento provocada pelo sistema escolar, a desilusão geral que “toma conta” de toda a coletividade que muitas vezes se privou do necessário para poder completar os estudos e receber o diploma “defasado”, interrompendo suas aspirações imaginárias, a promessa “traída”, necessitando reavaliar, redefinir suas profissões, aguardando uma interação “simbólica” determinada pela transformação da posição de suas novas funções instaurada por conta de seus “falsos” diplomas, e de esperanças subjetivas.

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