Freud foi sem dúvida um otimista produtivo, mas pessimista quando declarou que o método psicanalítico se aplicava às pessoas de até quarenta e cinco anos de idade, visto que a partir dessa idade a quantidade de material acumulado ao longo da vida era tal, que se tornava impossível uma abordagem psicanalítica. Era época em que a média de vida girava pelos cinqüenta anos.
É claro que existia uma demanda decorrente do sofrimento neurótico em todas as idades e se Freud tivesse continuado pensando na clínica psicanalítica em termos de alívio de sintomas, não teria imposto esta limitação.
Embora hoje, seja muito comum o atendimento de clientes bem mais velhos que os preconizados por Freud, a maioria dos psicanalistas tem-se calado frente à questão do envelhecimento.
Mas é chegada a hora de se propor a uma teorização para revelar o sentido da terceira idade.
A população idosa brasileira vem aumentando desde a década de 1950, quando apenas 4% dos brasileiros tinham mais de 60 anos. em 2005 15% da população brasileira tinha mais de 60 anos de idade e ainda, que esta em 2025 será a sexta maior população idosa do mundo, com cerca de 32 milhões de pessoas acima de 60 anos (Shouri Jr. et. al., 1994).
Frente a esses dados, parece haver uma necessidade de novos olhares para os idosos, de uma forma a que se comece a pensar em como aproveitar esta fase da vida. Essa preocupação é amplamente estudada na Psicologia Evolutiva, mas se preocupa somente no sentido de que as atividades de lazer necessitam estar em evidência, mas o certo é que a adaptação frente a uma nova fase de vida é a maior dificuldade enfrentada pelos idosos, pois fica a pergunta, será mesmo que é somente lazer que o idoso quer?
A pessoa idosa, na maioria dos casos, começa a formar de si mesma uma imagem negativa, resultante de um conjunto de idéias e atividades vindas da sociedade. Assim, a certa altura da vida, o indivíduo aceita sentir-se velho, significando que ele já não é mais o que costumava ser, e para piorar, juntamente com as várias limitações impostas pelo envelhecimento, vem paralelamente à aposentadoria, que atrapalha financeira, psicológica e socialmente a estrutura do idoso. Muitos chegam a pensar que a velhice é sinônimo de doença e fraqueza, e que tanto o vigor físico como a saúde jamais estará à sua disposição.
É necessário que se modifique essa visão, e considere que para o indivíduo idoso, na aposentadoria, a vida não acabou, apenas terminou uma fase, portanto há ainda outras fases a viver ativamente, e com certeza não é fazendo ginástica, excursões ou trabalhos manuais, alegando que isso é qualidade de vida para o idoso até que a morte chegue após 15 ou 20 anos, por isso costumo dizer que há pessoas que morrem aos 50 anos e são enterradas aos 80 anos ou mais.
E se continuar assim, tomara que num futuro próximo haja bancos suficientes nos jardins, para acomodar todas essas pessoas.
Na tentativa de modificar essa fase de vida, foi criada a faculdade da terceira idade, muitos idosos a estão freqüentando, mostrando que tem capacidade para continuar aprendendo, e depois? Irão ser aproveitados em algum trabalho relacionado com este aprendizado? Este aprendizado os leva a um trabalho compatível com as limitações da idade? Positivamente isso prova que o idoso não perde a capacidade de aprender, e isso mantém seu cérebro processando novas informações. Se o cérebro não é ativado com novas informações, o que geralmente acontece é que, ao se aposentar, o indivíduo não é mais requisitado a utilizar sua memória recente, conhecida como memória de trabalho, e que se refere a fatos do cotidiano. Sem se submeter à correria do dia-a-dia, que exige a realização de muitas tarefas, essa função é praticamente descartada pelo cérebro. Ele, então, dá prioridade a outro tipo de memória, a remota, que o remete a lembranças do passado distante. Quanto mais ativo o cérebro se mantiver, menor será o número de sinapses (ligações entre os neurônios) perdidas por causa do envelhecimento.
A tão sonhada aposentadoria não pode representar simplesmente parar de trabalhar, e sim a troca de ocupação por uma mais agradável. Para isso, é preciso investir e se preparar evoluindo em busca da especialização.
O ideal é que a busca por uma velhice saudável comece antes e não depois que os anos começam a pesar. Ou seja, a pessoa deve programar-se para envelhecer e não ser tomado de surpresa pela aposentadoria.
Investimento, embora seja uma palavra arraigada a finanças, pode muito bem fazer parte do vocabulário de quem prepara o terreno para que solidão e marasmo passem longe da velhice. Investir nas relações sociais, em atividades extra-profissionais e no próprio equilíbrio emocional é fundamental.
Quem passa a maior parte da vida adulta voltado para o trabalho tende a sentir-se inútil quando chega a aposentadoria. E por falar em aposentadoria, esta deve ser vista não como um período em que a pessoa tem tempo para fazer tudo aquilo que o trabalho não permitia. O que está terminantemente proibido é entregar-se ao ócio.
São inúmeros os exemplos de pessoas que continuam a ter uma vida produtiva e criadora mesmo após terem entrado no estágio da vida em que são consideradas idosas. Em muitos casos, é neste período que se dá a sua contribuição mais significativa para a sociedade. Seja voce também integrante desse grupo.